Friday, January 18, 2013

Lack of dollars fuels demand for Brazilian currency in Argentina

Michael Nagle/Bloomberg / Michael Nagle/Bloomberg
Mercedes Marcó del Pont,do BC, tem dito que demanda
por reais é sazonal


O real era trocado por três pesos cada nas lojas do centro de Buenos Aires e nas "cuevas", ou casas de câmbio informais, no fim da manhã de ontem. É uma cotação 25% superior à da taxa de conversão oficial do Banco Central argentino e representa uma brecha em relação ao mercado formal de câmbio sem precedentes para a moeda brasileira no país vizinho. Há apenas um mês, os cambistas argentinos não pagavam diferenças pela moeda brasileira em relação ao mercado formal.

O mercado cambial argentino está fechado para investidores desde outubro de 2011, quando a presidente Cristina Kirchner foi reeleita e adotou uma série de medidas restritivas para coibir a evasão de divisas. Na esfera oficial, apenas o Banco Central atua como formador de preços das moedas.


Até este verão, a moeda brasileira nunca havia sido objeto de especulação na Argentina: a atenção maior sempre esteve voltada para o dólar americano, que já é negociado informalmente a uma taxa de sete pesos para a compra, uma diferença de 42% em relação ao câmbio oficial. A escassez de notas de dólares dos Estados Unidos despertou a demanda pela moeda do Brasil.

Segundo entrevista recente da presidente do Banco Central, Mercedes Marcó del Pont, a jornais simpáticos ao governo, o aquecimento do mercado informal de divisas em janeiro é sazonal, em razão do período de férias, o que se traduz, naturalmente, em maior demanda por moeda estrangeira.

Mas economistas de oposição começam a ver riscos da brecha entre a cotação informal e a formal se consolidar a níveis altos no caso da moeda americana, o que poderia afetar a economia interna.

"No momento este é o fator de desestabilização na economia argentina. A médio prazo, a variação do dólar negro vai começar a formar preços internos, começando pelos setores que não são regulados pelo comércio exterior, como o de serviços e aluguéis. O peso artificialmente valorizado deixará cada vez mais de ser uma âncora de preços", comentou o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna, que ocupou a pasta entre 2002 e 2005.

Ao longo de 2010 e 2011, a variação oficial do dólar foi abaixo de 10% em relação ao peso, um percentual menor que o já desacreditado índice oficial de inflação. Em 2012, em função da desvalorização sofrida pelo real no Brasil, o Banco Central corrigiu parcialmente o atraso cambial, permitindo uma variação de 14,4% ao ano.

Como o governo brasileiro em dezembro novamente mudou a sua estratégia para o setor e aparentemente pretende manter o real relativamente estável em uma faixa em torno de R$ 2,05 o dólar, o Banco Central argentino diminuiu a desvalorização.

Por Cesar Felício

http://www.valor.com.br/imprimir/noticia/2974772/financas/2974772/real-tem-agora-mercado-paralelo-na-argentina